domingo, 17 de janeiro de 2010

Incapable de Pleurer - Fanfic


A lua brilhava alta no céu naquela noite, rodeada de estrelas, cheia e bela. Como se a dama da noite exibisse sua beleza pra seus súditos. Estava frio, mas não o suficiente para trancar as pessoas em casa. Havia resquícios da neve que havia caído de tarde, que agora era apenas pequenos amontoados fofos, como se fossem pequenos coelhos descasando. Não havia muitas nuvens naquele céu noturno, como se a natureza cooperasse para ostentar a beleza dos astros espaciais.
- Vem, Alphonse – falei, para o garoto loiro de olhos verdes que corria sorridente atrás de mim.
Alphonse era meu amigo deis que eu me entendia por gente, nós estávamos sempre juntos, ou na casa de um, ou na casa do outro..
Meus pais conversavam com os tios dele – Alphonse ficara órfão aos cinco anos e saiu da Alemanha para vir morar com os tios na França – e nós brincávamos de pega-pega no jardim.
Ele era mais rápido que eu, e isso me deixava em desvantagem, mas ele era meio desajeitado, e eu me aproveitava disso pulando sobre obstáculos, passando por lugares estreitos, onde quase sempre ele se atrapalhava, me dando uma boa dianteira.
Não sei o que me levou a realizar o ato seguinte. Talvez fosse a vontade de tentar algo novo, talvez fosse somente a vontade de conseguir uma distancia maior entre mim e ele.
Sem pensar muito no que estava fazendo, por que ele estava quase me alcançando, pulei o muro de casa habilmente – acho que minhas habilidades ficaram na minha infância, por que hoje sou bem desastrada – e deixando Alphonse para trás, enquanto ele analisava rapidamente o melhor jeito de escalar o pequeno muro, em pouco tempo, visto que se ele desse a volta para sair pelo portão, perderia tempo demais.
Eu estava bem na frente dele, olhei para trás e vi o relógio de prata que ele usava refletindo a luz dos postes.
Mas como ele era indiscutivelmente mais rápido que eu, a distancia entre nós diminuía em pouco tempo, e eu virei rapidamente, entrando em um beco escuro.
Tropecei em uma pedra, quase do tamanho da minha cabeça, que estava ali.
Me ajoelhei, notei que eu sangrava um pouco. Não o suficiente para me fazer chorar, por isso decidi esperar por Alphonse ali.
Tive a impressão de ver uma pessoa passando rapidamente pela outra saída do beco, mas devia só ser alguma sombra.
Alguém tocou meu ombro, mas quando me virei, vi que não era Alphonse.
- Você está perdida, menininha? – disse uma voz tão suave, tão sutil, que parecia soar como uma música. Não fiquei com medo. Alguém com uma voz dessas não poderia ser mal.
Mas um calafrio percorreu todo meu corpo quando vi os olhos do homem que segurava meu ombro.
Olhos vermelhos, que pareciam estar mudando lentamente para um vermelho mais escuro, talvez preto...
Apesar da face do homem ser incrivelmente linda, seus olhos ferozes deixavam transparecer suas intenções assassinas, que eram escondidas pela máscara que era seu rosto.
Só então percebi que sua mão era incrivelmente gelada, mesmo que ele estivesse me tocando por cima de minha camisa grossa de lã.
Ouvi passos logo atrás de mim, e vi um reflexo do relógio prateado se aproximando.
Alphonse estava lá, no mesmo beco que aquele monstro. Meu melhor amigo tinha acabado de entrar no beco que provavelmente seria o local da minha morte. E agora, da dele também.
Tentei gritar para mandá-lo embora, mas cada músculo do meu corpo estava rígido, e minha voz não saia.
Fiquei ainda mais apavorada quando vi ele se aproximando de mim – e do monstro assassino ao meu lado – com um enorme sorriso, sem ter noção do que aconteceria logo depois.
- Quem é o senhor? – perguntou ele para o homem que segurava meu ombro (com tanta força que não sei como não havia quebrado algum osso ainda) e sorrindo.
O homem pareceu farejar o ar, e em uma fração de segundo ele não estava mais segurando meu ombro. Agora ele segurava Alphonse pelo pescoço, os olhos vermelhos fixados em uma veia que saltava na garganta dele.
Eu ainda não conseguia me mover. O pavor me mantinha ali, presa aquele lugar, e todos os meus músculos ardiam, como se correntes em brasa prendessem cada parte do meu corpo.
Quando tentei gritar novamente, minha garganta ardeu em chamas, parecia que eu estava engolindo lava pura.
A voz não saia, e rapidamente eu vi a boca dele se aproximar do pescoço de Alphonse, e se fechar com força. Então o sangue escorreu pelo pescoço dele, enquanto a maior parte descia pela garganta do monstro a minha frente.
Aquilo havia sido demais para mim.
Gritei, mais não pela sensação de ter todo o meu corpo queimando por causa do pavor, mas por ver meu melhor amigo servir de refeição para um monstro.
Vi o corpo de Alphonse cair no chão, e vi a criatura se aproximar de mim.
Desmaiei, meu corpo não tinha mais forças para lutar, mesmo sabendo que eu seria a próxima parte da refeição daquele monstro.Só pude ouvir uma outra frase, antes de perder a consciência. Uma frase dita por uma mulher, mas no mesmo tom musical do homem.
- Lohan, chega, temos que ir. Já ficamos tempo demais aqui.
Então meus olhos ficaram pesados, e desabei no chão. Esperava acordar com os dentes frios dos monstros no meu pescoço, mas não foi isso que aconteceu. Acordei na minha cama, ouvia as vozes de meus pais e dos tios de Alphonse na sala. Escutei outra voz vindo da sala. Essa eu não conhecia. Mas pelo que ouvi, se tratava de um médico. Entendi claramente apenas uma frase: Ela está em estado de choque, e parece que isso resultou na perda momentânea da voz. Mas não é permanente, deve passar em alguns dias.
Ótimo. Temporariamente muda. O que mais faltava acontecer? Mas o mais me importava no momento era Alphonse.
Precisava me levantar, ir até eles e perguntar o que havia acontecido. Parecia tudo irreal demais. Mas tinha sido real, eu não podia fugir disso. Mas não encontrava forças para me levantar. Meus membros pareciam dormentes. E a imagem dos olhos daquele monstro invadiram minha mente. Tentei expulsar aquela lembrança, procurando alguma coisa que me distraísse. Notei que a televisão estava ligada. Tentei prestar atenção no que estava passando. Então vi Alphonse parado na minha frente, olhando para mim, sorrindo. Quase dei um grito, mas percebi que era uma foto que estava sendo mostrada no telejornal. Minha mente estava perturbada pelos acontecimentos daquela noite. Mas me esforcei para ouvir o que estava sendo dito.
“Foi encontrado o corpo do jovem Alphonse, de dez anos, que desapareceu na noite de ontem, na beira de uma estrada a alguns quilômetros do local do crime. A família de Alphonse e de Claire, a garota que estava com ele quando o crime foi cometido, se recusaram a dar entrevista. Mais informações sobre essa caso serão dadas durante a semana. Boa noite ”
Tentei gritar, mas a voz não vinha. Ficava presa na garganta. Tentei me levantar novamente,. Mas me senti tonta, e, então, desmaiei novamente.
***
O sol estava se pondo. As nuvens que o rodeavam tinham um tom alaranjado, em contraste com o céu azul. Esperava minha mãe do lado de fora do salão de beleza. A rua estava pouco movimentada, e eu estava sentada em um pequeno banco marrom na calçada. Minha voz tinha voltado um pouco, mas eu só conseguia sussurrar. Vi um garoto parado na calçada do outro lado, e ele olhava fixamente para mim.
O rosto dele me parecia estranhamente familiar. Ele usava roupas escuras, e era loiro. Eu já tinha visto ele em algum lugar, mas onde?
Então o reconheci. Senti um calafrio ao perceber que era Alphonse que estava parado na minha frente. E dessa vez era mesmo ele. Mais magro, com o rosto mais fino, mais pálido, mas era Alphonse. O mesmo Alphonse que eu achei que nunca mais veria. Passado o estado choque, corri em direção a ele. Ele não parecia demonstrar nenhuma reação por mim. Tentei chama-lo, mas minha voz saiu rasgando minha garganta. Então notei que algo estava errado. Os olhos de Alphonse. O verde-esmeralda que sempre me encantara havia sumido. O olhar dele me paralisou no meio da rua. Seus olhos estavam vermelhos, quase pretos. Eles me encaravam com... fome. Seus olhos eram olhos de uma criatura da noite, de um monstro. Olhos de um caçador. Olhos de um predador faminto que observava a presa indefesa.
E eles estavam fixos em mim.

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